Uma viagem... - PARTE FINAL
--> Ao som de The Cranberries.
Quando o ônibus chegou ao Oasis, a menina já estava desperta. ela olhava a paisagem como se não soubesse onde estava, como se tudo aquilo fosse muito novo para ela. "Deve ser a primeira vez que ela viaja", pensou ele. "Mas, então, por que ela viaja sozinha?" No Oasis, ele desceu assim que o ônibus parou. Ela demorou-se um pouco mais. Quando ele estava na fila do caixa, viu ela se dirigir ao banheiro feminino. Ela e a maioria das mulheres do ônibus. Por que mulher tem tanta mania de banheiro? Mas ela estava sozinha, pois mulheres não vão sozinhas ao banheiro se tiverem uma companheira. Ele comprou cigarros e foi fumar do lado de fora. Fumava o segundo cigarro quando ela apareceu na porta do estabelecimento. Eu o olhou e ele também. Mas ela olhou para ele da mesma forma que olhou para as outras pessoas que estavam ao redor. Indiferente. Impassiva. "Como uma garota tão novinha pode viajar assim, sozinha? Por que os pais dela a deixaram viajar sem companhia?"
Um locutor anunciou que o ônibus partiria naquele momento. As pessoas começaram a entrar no ônibus. Ela desejava ficar o máximo de tempo do lado de fora do ônibus. Queria ficar em pé. Já não aguentava mais permancer sentada. Era hiper-ativa e estava enjoada de ficar parada dentro daquele retângulo com rodas. Olhou, instintivamente para seu vizinho de poltrona. Os olhos do velho pareceram pedir que ela entrasse logo no ônibus. Ela leu isso naqueles olhos azuis e cansados e ficou levemente aborrecida. Ele pensou: "Será que ela vai demorar a voltar ao seu assento? Como ela está na janela, é melhor que ela entre antes de mim." Contrariada, ela tomou seu lugar no ônibus.
Logo ele estava ao seu lado e o veículo partia. Ela estava aborrecida, mas ele não podia perceber isso. Ela pareceu simpática quando ofereceu uma pastilha de hortelã a ele. Polidamente, ele recusou. Ela se aborreceu ainda mais. Não queria parecer simnpática. Queria que ele aceitasse a pastilha porque não suportava o odor de cigarro. Torceu para que ele não dirigisse a palavra a ela.
Infelizmente seus desejos não foram atendidos. Mais uma vez, aconteceu o contrário do que ela desejou. Ele sugeriu que ela acendesse a luz para continuar a leitura, do contrário mais tarde precisaria de óculos. Ela pensou: "SeErá que ele é idiota ou está quase cego?", e respondeu: "Mas eu já uso óculos". Ele se espantou: "Pensei que fossem só para enfeitar!", e ela se irritou, sem demonstrar. "Que espécie de pessoa usaria óculos só para enfeitar?", pensou. Aquela foi a deixa para que ele começasse a contar toda a sua vida e seus problemas para a menina. "Mais um louco que olha pra minha cara e acha que eu sou psicóloga! O que essas pessoas têm para confiar tão facilmente numa estranha?"
Ele perguntou: "Você é espírita?". "Qual é a desse cara?" Não deu forma aos pensamentos... Apenas respondeu polidamente: "Fui. Durante 18 anos. Depois larguei, mas ainda leio obras espíritas e acredito". Ela sempre o surpreenderia? "E você tem mais de 18 anos?" "Tenho 21". "Eu não te daria mais do que 15. Uns 16, talvez". "É, eu tenho cara de criança!", apenas pensou. Agradeceu o que poderia ter sido um elogio e continuou a ouvir o discurso enfadonho do velho sobre fé, seu trabalho e sua ex-mulher louca. Durante uma hora suportou a conversa fiada do homem e ficou muito feliz quando chegou ao seu destino. "Eu fico aqui", disse ao velho, "bom final de viagem". "Obrigada e divirta-se". "O que ele quer dizer com 'divirta-se'? Estou aqui para assistir um congresso", pensou ainda uma última vez. Encontrou seu namorado na rodoviária e, imediatamente, esqueceu-se daquele homem estranho com estafados olhos azuis...
Ecrit par Thais, le Vendredi 27 Août 2004, 17:40 dans la rubrique "Pensamentos".